sábado, 30 de outubro de 2010

Chuva! (Diário da Mirys)


Eu tenho uma "história" interessante com a chuva...e como, quase sempre, os capítulos desta história incluem o Fer, eu criei um laço com a chuva. Está chovendo? Me sinto bem!!!!

Já ganhei beijos memoráveis na chuva!!! Em um deles, meu pai apareceu, me fez entrar no carro e me levou pra casa para uma das maiores broncas do século! Mas, essa parte não interessa (desculpe, paizinho)... aquele beijo continuou memorável (mais do que os outros chuvosos)!!!

Já fiz questão absoluta de tomar banho de chuva quando a cabeça estava imensa, parecendo que ia explodir. Não sei se você já passou por isso, mas nada melhor do que uma chuva de verão pra você chorar sem culpa e ninguém perguntar "por que seu rosto está molhado", porque, na verdade, você está inteiro ensopado!

Em um dos últimos ultrassons do Guigo, voltávamos pra casa e caia uma chuva horrorosa em Sampa, daquelas de ter que desligar o rádio porque você não consegue ouvir a música. Então, comecei a tamborilar na minha barriga e falar alto: "-ping, ping, ping, ping... está ouvindo, filho? É a chuvinha! Ping, ping, ping... é assim que ela faz... está chovendo aqui fora. Fique aí, mais um pouquinho, que está quentinho."

No dia em que a Nina nasceu, estava chovendo, em Jaú. "Só eu" vi porque fui acordada pelo Guigo, umas 4hs da manhã, e acabei indo pra sala (deixando meus meninos dormindo na cama de casal). (você pode ler essa história no post "Dia D" - setembro/2006)

Em janeiro, no dia do velório do Fer, estava um sol lindo e um céu aberto. E tinha um milhão de amigos e conhecidos naquela sala, que tinham ido até lá só pra "me dar um abraço" (os abraços mais valiosos que já recebi). Todos ficavam falando super bem dele, de como era um cara legal, um marido exemplar, um pai apaixonado. E o Fer detestava que ficassem falando bem dele! Sério mesmo!!! Eu até brincava com ele que ele era péssimo em promoção pessoal. Ele já começava um discurso dizendo que não merecia isso ou aquilo... Com medo de parecer soberba, ele desconversava qualquer discussão sobre alguma coisa que ele fizesse bem (fosse tocar baixo ou ser pai ou escrever artigos sobre direito).

Então, naquela tarde, quando chegamos ao cemitério, o céu começou a fechar. Parecia cena de filme: as pessoas da igreja cantando ("que tua vida, amigo, seja sempre para o melhor...até nos encontrarmos, outra vez..."), andando, chorando, última oração, últimos passos, mais música, mais choro, mais despedidas... e o céu fechando. Uma gotinha aqui, outra ali. Quando tudo acabou e os pedreiros começaram a colocar a terra de volta no lugar, começou um toró! Eu olhava para todos os lados e só via gente correndo. Meus amigos, alguns arrumados, alguns com a 1a roupa que tinham embolada no guarda-roupas, uns de óculos escuros, outros chorando pra todo mundo ver mesmo... todos sairam correndo, com as mãos ou algum papel protegendo a cabeça. Eu fiquei lá, chorando na chuva, que só apertava e ficava mais forte, como se ele, lá do céu, assistisse e dissesse: "-tá bom, tá bom, galera. Agora chega! Chega de beijos na Mirys. Chega de despedidas. Chega de falar bem de mim. Vão pra casa e toquem suas vidas! Ela continua." A única pessoa que me lembro de ter visto por lá, quando me virei para ir embora, foi o Raul (nosso estagiário e amigo pessoal do Fer). Mesmo ele, eu abracei, ele se virou e se foi, andando rápido, na chuva.

A chuva só parou quando eu cheguei no portão do cemitério (não falei que parecia filme?). Então, pude cumprimentar algumas pessoas que eu ainda não tinha visto ou que tinham acabado de chegar (teve gente que veio de tão longe...).

Desde então, sempre que tenho algo mais importante pra fazer: chove!
E eu olho a chuva e me sinto bem pra burro! Parece que ele está lá em cima dizendo: "-ei benzinho, eu estou aqui! E vou com vocês pra onde vocês forem!". Me dá uma sensação de "não se preocupe", que é muito boa.


Nossa viagem para a praia com a família dele foi assim: chuva no caminho, chuva lá, chuva nos passeios. Só não choveu na volta (porque a gente não precisava mais de uma mãozinha dele: já estava tudo bem!). Nessa viagem (que eu estava tão preocupada de ir sozinha com as crianças... e se fura um pneu?... e se quebra alguma coisa no carro?) choveu. Nada dramático... só uma chuvinha leve, discreta, como o Fer. Só pra dizer que ele também estava ali.

E chegamos com chuva em Campo Grande.
Agora, com licença que um delicioso e imbatível pão de calabresa + uma coca light gelada me esperam...

Um comentário:

Nana disse...

Nossa, Mirys... a minha lembrança do velório tb eh a mesma... Aqueles louvores que cantamos e que nos davam aquela certeza que só Deus pode nos dar: tudo vai ficar bem - por mais estranho que seja sentir isso numa situação daquelas!!!
E nunca vou esquecer os escritos da camiseta do rapaz do cemitério: AQUI SOMOS TODOS IGUAIS. Aprendi muito naquele dia...
Com ctza, a chuva serve pra muita coisa: lavar a alma, chorar, rir, comemorar... é um presente de Deus. Eu adoro uma boa chuvinha - só não gosto qdo faço chapinha....rsrsrsrs.
Bjs e fiquem com Deus.