quinta-feira, 26 de julho de 2012

Interlúdio 14 - que seja do outro lado do mundo, então! (Diário da Mirys)

E nessa toada de estar sozinha, sem querer estar, eu fui levando. 1, 2, 3, 6, 8 meses. Levando... Já ia fazer dois anos do acidente e a cronologia do meu estado emocional era, mais ou menos, essa: nos primeiros 13 ou 14 meses, eu não conseguia NEM PENSAR na hipótese de ter outra pessoa. Nos primeiros meses, na verdade, eu não podia nem falar no Fernando ou em qualquer outro relacionamento de homem / mulher... eu tinha que sorrir, pedir licença e sair de perto, procurando o banheiro mais próximo! Não riam! É sério! Ridículo, mas sério, falar nesse assunto (“relacionamentos”) era apertar alguns botões dentro de mim e ter ânsia e desarranjar meu estômago/intestino, na hora!!! Automaticamente!!! Não sei como não emagreci todos meus 50 e poucos quilos....

Lá pelo 15º ou 16º mês, a companhia das crianças já não me bastava mais (eu AMAVA ficar com eles, mas não era o suficiente, entendem?), o meu trabalho não me realizava completamente, os meus hobbies e distrações não me satisfaziam... faltava alguma coisa. Faltava algo IMPORTANTE! Faltava alguém, aquele alguém capaz de me fazer sorrir com qualquer bobagem que falasse, aquele alguém que me abraçasse, me beijasse, me quisesse, aquele alguém que fizesse meu celular tocar, meu coração acelerar, minha voz falsear, que tirasse tudo do lugar e rearrumasse de um jeito só dele. Alguém pra quem voltar. Alguém por quem esperar ansiosamente no fim do dia, da semana, de uma quarta-feira qualquer.

Eu queria viver tudo aquilo, de novo, mas não sabia nem por onde começar! Eu não sabia mais namorar (eu tinha ficado com o Fernando por 16 anos e tra-la-lá, até ficar viúva dele... e isso é tempo demais), não sabia nem olhar para o lado, não sabia ser a Miriane na versão solteira. Afinal, eu tinha me empenhado tanto em ser a melhor Miriane que eu conseguisse, na versão mãe, na versão filha, na versão nora, na versão irmã, na versão amiga, na versão profissional... eu tinha consumido tanto tempo e energia com isso, nos últimos anos. Até ser esposa eu sabia. Eu me lembrava! Porque “esposa” eu tinha sido, há pouco tempo atrás... mas namorada, não! Paquera, não!

Na verdade, eu MORRIA DE MEDO de um momento em especial: o depois do beijo. Na minha cabecinha confusa, eu pensava que eu podia “até beijar” alguém... mas eu não iria abrir meus olhos nunca mais! Porque e se eu abrisse os olhos, esperando ver o Fer, e não fosse ele quem estivesse lá?????? O que eu faria???? Crise de choro? Crise de riso (eu tenho isso quando fico super nervosa)? Sentiria um vazio maior ainda? Me sentiria traidora? Me sentiria abandonada? E eu sabia que não seria ele que estaria lá... é claro que não seria...

Perdida nessa minha loucura de viuvez, eu não beijei ninguém. E pior: eu achava que não beijava porque ninguém queria me beijar, sem perceber que a “culpa” era minha mesmo, e dos meus medos completamente irracionais...

Mais tempo se passou e uma prima amadíssima me ligou. Em resumo: “Mirys, vou me casar na Alemanha (com um alemão, claro!), com meu namorado da Irlanda. Mas eu não falo alemão e ele não fala português. Então, o casamento será todo traduzido pro inglês (língua que os dois falavam). Mas, meus pais vem pra cá e eles não falam nem alemão, nem inglês. Você pode vir pra traduzir?” Claro que esse pedido veio no meio de um monte de “Miroca, love you, baby”, “Miroca tô morrendo de saudades”, “Miroca, quero tanto te ver, de novo” – porque eu e as minhas primas somos assim, praticamente irmãs, mesmo!

E eu pensei que só teria um mês para organizar férias, dinheiro, passagem, trabalho, vestido. Que eu não sabia NADA de alemão e que nunca quis ir visitar a Alemanha. Que não teria ninguém para fazer a viagem comigo. Que teria que pedir para a minha mãe largar toooodas as coisas dela e vir pra minha casa, ficar com as minhas crianças, por duas semanas (e eu detesto tirar os outros do conforto deles para resolver as minhas coisas). Que eu não conheceria ninguém naquele casamento, além da minha prima e dos meus tios.

E eu pensei: WHAT THE HELL (tradução livre e light minha: “oras bolas, por que não?”). E eu fui. Quem sabe, lá na Alemanha, eu beijasse alguém?......

Cenas do próximo capítulo aqui

3 comentários:

Carina Ferro disse...

Mirys,
Estou me coçando toda de curiosidade. Please, chegue no Humberto o mais rápido possível!!!!!!

Beijos

Paula Decco Frederico Franco disse...

Como assim??? Conta tudo logo!!! rsrsrsrs

Debby disse...

Mirys esse lado seu eu não conhecia, mulher tu mata um de curiosidadeeeee.
rs rs

Mas estou correndo, correndo para ler.

Bjs e estou encantada viu?
Quer dizer, mais ainda.
Debby :)